Projeto Teia é noticia de capa no jornal Estado de Minas.

26/05/2010 11:34

Na rede

Jovens ganham dinheiro brincando

Meninos, muitos de baixa renda, descobrem que é possível usar o computador para melhorar ganhos e mudar de vida

Sandra Kiefer

Mais de 7 mil jovens, a maioria de baixa renda, estão neste momento estacados na frente da tela de um computador em Minas. Em vez de gastar tempo em jogos ou em sites de relacionamento, ganham dinheiro com a internet, plugados no Tecnologia, Empreendedorismo e Inovação Aplicados (Teia). Criada em janeiro de 2009, a rede mineira de computadores ensina a usar a web para fazer negócios. Sabendo trabalhar com informática, dá para tirar de R$ 150 a até R$ 15  mil por mês. Aos 22 anos, Rafael Angeli anda só com roupas da moda, deu entrada no consórcio de um carro Crossfox e comprou apartamento de R$ 100 mil no Bairro Serra Verde, a caminho da Cidade Administrativa.


"Se eu tivesse conhecido o Teia antes, já teria ganho muito mais dinheiro. A ferramenta que se usa para brincar é a mesma para trabalhar", afirma Rafael. Desde o primeiro emprego como atendente de supermercado, aos 14 anos, a vida do jovem mudou radicalmente com o Teia. Por meio da rede, Rafael foi contratado para informatizar prefeituras do interior no Integra Minas, em convênio com a Associação Mineira de Municípios (AMM). "Ensino os prefeitos a perderem o medo de lidar com o computador, a enviar e-mails e a gastar menos com telefone, usando os recursos da internet", explica Rafael, que era buscado em casa no carro oficial das prefeituras.


A ideia do Teia é simples e, por isso mesmo, emocionante, nas palavras de Alexandre Hohagen, diretor-geral da Google para a América Latina. Segundo ele, é “o projeto mais envolvente e completo que ele conheceu desde que começou a operação da Google do Brasil”. De um lado estão jovens que já nasceram alfabetizados em programas de computador. Do outro, pessoas sem costume com a linguagem digital que desejam montar um site de vendas, fazer transmissões de vídeos em tempo real e postar mensagens aos amigos. Uma turma depende da outra para fazer dar certo (veja quadro).


Calcula-se que o Teia já tenha gerado R$ 2 bilhões em negócios. Vão desde sites que incentivam pequenos produtores a vender os tradicionais queijos de Minas por Sedex (www.queijosequeijos.ning.com). Alan Ferreira, de Salinas, arranjou um modo de oferecer para fora do  município os móveis em madeira de demolição, por meio do https://genarts.ning.com/ Vende Móveis. Já Solange Moreira, de BH, criou  para a mãe, Clélia Moreira, de 66, uma página na internet para revender  cosméticos da Natura. "Acho que a gente deve começar a mudar as coisas  dentro de casa", ensina ela, hoje empregada por indicação do Teia.

"Se fossem contratar a Prodemge, levariam uns cinco anos para fazer o mesmo trabalho", alfineta Rafael Angeli, que já foi novamente contratado para trabalhar em outro projeto, da Rede Metropolitana de Municípios. Na  época, em tempo recorde, de maio a dezembro de 2009, o jovem visitou 709 prefeituras. Com as ferramentas Google Apps, Docs, Agenda, ele  desenvolveu e-mails padronizados para os prefeitos, além de criar PABX interno ou integrar as secretarias municipais e prefeituras usando voz e vídeo. Nas viagens ao interior, recebeu também perto de 100 demandas de trabalhos virtuais, os quais subcontratou aos colegas do Teia. Entre  eles, foi procurado por um escritório de advocacia para organizar os  processos em pastas, dentro do sistema de informática. "Tinha 10 computadores na prefeitura, mas não sabia aproveitar tudo o que o  sistema oferecia. Agora, sei até de cor o e-mail", admite o prefeito de Pedrinópolis, Fausto Ferreira da Silva, de 62 anos.

O Teia ajudou também o jovem João Pedro Carvalho Motta, de 15, que cursa o 9º  ano do ensino fundamental em Governador Valadares. Sozinho, o garoto  criou um aplicativo para o Twitter, microblog onde tem mais de 100 mil  seguidores somando os seus três perfis. Com a ferramenta, é possível  identificar e reunir um número maior de seguidores no Twitter. A idade  dele, garante, sempre surpreende muito os seus clientes. João já chegou a receber R$ 10 mil em um mês pelos trabalhos que desenvolve. "Mas varia  muito. Em alguns meses ganho R$ 8 mil, R$ 3 mil e às vezes nada. E esse dinheiro vai ser útil para investir ainda mais na internet. Vou precisar contratar freelancers no futuro para divulgação, por exemplo", disse.

Matheus Amaral, de 19, revela que nunca brincou de pipa e que nem se lembra com que idade começou a lidar com computadores. Ele calcula que dorme 6  horas por noite e, no restante do tempo, está ligado na internet. Só abre exceção para o fim de semana, quando desliga as máquinas. Depois de descobrir o Teia, passou a tirar em torno de R$ 500 por mês no  atendimento de demandas diversas que aparecem para ser resolvidas na  rede. Com o salário, pretende pagar a faculdade de engenharia de  produção civil. Atualmente, foi contratado pelo Servas para auxiliar na transmissão on-line de eventos.

O Teia é a menina dos olhos de Alberto Duque Portugal, secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes). Ele conta que, em 2007, recebeu a encomenda de massificar o uso da internet em Minas, agregando valor ao produto criado. Como já tinha conhecimento do modelo do Instituto Peabyrus, que interliga cientistas e pesquisadores de todo o país, decidiu capacitar continuamente uma equipe de operadores da infraestrutura Web 2.0. "Novos rafaéis, joões e solanges vão sendo criados no Teia, que já é praticamente autossustentável. À medida que se abre uma janela, as pessoas mostram sua cara para o mundo."